sábado, 28 de agosto de 2010

Voar

   Você já voou? Eu já. Várias vezes.
Contarei a primeira, a melhor.
   Era fevereiro de 2003 quando minha avó me deu ''A bolsa amarela''. Capa grossa (e dura), vermelho, sem ilustrações, sem capa bonita. Eu tinha apenas dez anos e nunca tinha voado. Aquilo não me deu interesse algum, nenhuma motivação.
   Peguei, e o guardei em minha estante de bonecas. Especificamente as ''esquecidas''. Os dias se passaram e o meu aniversário se aproximava. Iria ganhar um quarto novo, com tudo novo. Então minha mãe pediu para escolher apenas o que ainda me servia. Joguei todas as bonecas esquecidas em uma sacola para a doação e o vi.
   Ele estava cheio de poeira e ainda servia de apoio para a casa de uma aranha. Logo lembrei de minha pobre avó que estava doente e sempre perguntava sobre ele. E eu dizia: - Ah, ele é legal. Mentindo, claro. Achei melhor parar com aquilo e me esforçar (o que era um grande esforço para mim ler aquela coisa tão chata e desinteressante.).
   Me esforcei bastante e abri a primeira página. Comecei. Até que a primeira página não era tão ruim. Sentei e continuei. Havia começado o meu embarque às oito horas da manhã. Foi tão divertido e tão interessante que fui chamada mais de três vezes para almoçar.
   Então decolei. Era perfeito, via tudo o que estava escrito ali a minha volta. Feiticeiras, galos falantes, ursos azuis... até conversei com a árvore do desabafo. Era tudo lindo, maravilhoso, bom e perfeito. 
   Mas o tempo passou tão rápido que o meu vôo de trezentas páginas se aproximava do fim.
   Foi difícil aterrissar, dar adeus a todos. Mas consegui. Esse foi o vôo mais perfeito, o primeiro. Depois desse virei piloto, agora vejo coisas mais complexas, e não saio mais dos ares.
Bem...a não ser na hora do almoço.
Voar é uma arte.
E você... quer voar?
Gabrielle Mendonça.  N° 14 

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